entrada: Condições Gerais
D'après Nuno Gonçalves
Pedro Cabral Santo e Hugo Canoilas
Pedro Cabral Santo
Pedro Cabral Santo, Sem Dó, com Ré
A obra Sem Dó, com Ré (homenagem a Sá de Miranda) constitui-se numa vídeo-instalação, onde o rosto da artista Lula Pena aparece sob um filtro azul cobalto. A artista vai “tentando” interpretar o poema de Sá de Miranda Comigo me desavim. Trata-se de um poema do tempo do Nuno Gonçalves que nos remete, na primeira pessoa, para um estado de permanente desassossego. É esta analogia que se tenta estabelecer com os painéis em questão - uma pintura em permanente desassossego, que não é nem deixa de ser o princípio e o fim de alguma coisa. O “misterioso” parece ter-se apoderado da pintura, daquilo que evoca, e do seu próprio autor.
Comigo me desavim
Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
.
Com dor da gente fugia,
Antes que esta assi crecesse:
Agora já fugiria.
De mim, se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?
Sá de Miranda
Hugo Canoilas, Painéis sem título (podemos ficar todos juntos)
A instalação é composta por seis painéis de contraplacado de madeira, suspensos numa grelha metálica que avança em relação à parede do fundo da sala, redefinindo os limites do espaço para aproximá-lo da escala da obra.
Os seis planos têm uma dimensão idêntica aos painéis de São Vicente e utilizam a sua linguagem formal como rede, a partir da qual a pintura não pode cair, na clara pretensão de estabelecer este trabalho como plataforma de salto.
Utilizando um conjunto de materiais e objectos encontrados, a obra desenvolveu-se a partir do impulso da necessidade de resposta a contingências técnicas ou materiais. As placas foram colocadas no solo e os vários elementos colocados sobre estas. O movimento e o olhar em torno do plano horizontal aproximavam-se de Pollock para depois se afastarem, pela marcação de formas específicas, pela realização do desenho e, no final, pelo retorno dos painéis à verticalidade.
Hugo Canoilas