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As Cores da Vanguarda

Arte na Roménia 1910-1950

2009-03-27
2009-06-21
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Texto do Curador

A exposição Cores da Vanguarda. Arte na Roménia 1910-1950 pretende salientar as tensões entre a vanguarda e a tradição na primeira metade do século XX. A partir de 70 pinturas seleccionadas de entre os acervos de 9 museus romenos, constrói se um estudo sobre as condições políticas, culturais e das artes visuais que determinaram a emergência da vanguarda local e a sua evolução até finais da década de 50.

Partindo do modernismo expressionista e pós-impressionista da primeira década do século XX a exposição revela as experiências simultaneamente traumáticas e utópicas do rescaldo da Primeira Guerra, que explicam a emergência e o desenvolvimento de uma vanguarda local, com figuras como Arthur Segal (futuro líder do "Grupo de Novembro" em Berlim), Marcel Janco (fundador do movimento Dada, no Cabaret Voltaire em Zurique, juntamente com Tristan Tzara), Hans-Mattis Teutsch, ligado simultaneamente ao grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), à Bauhaus e aos círculos húngaro, inglês, alemão e romeno de vanguarda, bem como M.H. Maxy ou ainda Victor Brauner, que mais tarde será um importante representante do surrealismo francês.

O incipiente movimento vanguardista defrontou se, desde o início, com um tradicionalismo crescente e centrado em valores nacionais. A autoctonia militante da “arte especificamente nacional” revestia se essencialmente de conotações religiosas e militaristas. No seu núcleo, encontrava se a figura idealizada do camponês, um paradigma de resistência espiritual, força e firmeza histórica. A coabitação, hibridização mútua e confronto entre a vanguarda emergente e o tradicionalismo polémico configuravam, em conjunto, o que se poderia apelidar de modernismo moderado da cultura visual da Roménia no período entre as duas guerras, caracterizado por um aceso e controverso diálogo.

A exposição Cores da Vanguarda apresenta todo o espectro de interferências e permutas presentes na cultura visual do período entre as duas guerras, tanto de natureza político-ideológica como étnica. A cena artística romena no período entre as duas guerras não se caracteriza por uma cultura homogénea, claramente dominante. Pelo contrário, nela floresceu um puzzle multicultural de linguagens divergentes. A exposição Cores da Vanguarda reflecte a natureza caleidoscópica dos diversos universos visuais da época com raízes em tradições distintas mas complementares. A exposição apresenta as obras de artistas arménios surpreendentes como Apcar Baltazar, interessado em figuras extremas, perturbadoras, da actualidade, fossem elas camponeses revoltados ou prostitutas, bem como de prestigiados artistas alemães, como Hans Eder, espelhando as particularidades culturais dos alemães da Transilvânia, a viver em comunidades urbanas fechadas e marcadas pelos valores burgueses, e de artistas húngaros como Sandor Ziffer e Sandor Szolnay, ligados à seminal Escola Nagybanya (Baia-Mare), fascinados pelas míticas paisagens locais. Artistas judeus como Brauner, Maxy e Iancu (Janco) impulsionaram uma nova perspectiva sobre a dinâmica da moderna, vertiginosa e extraordinária vida da cidade, enquanto artistas romenos como Ressu, Sirato e Theodorescu-Sion tentaram ensaiar uma resposta, idealizando o mundo camponês e rural.

A contaminação, a rivalidade, a provocação, a imitação, a interpretação, a crítica, ou mesmo a caricatura, consequência deste aceso diálogo intercultural, estão na origem da diversificada e rica cultura visual moderna romena do período entre as duas guerras.

Erwin Kessler
Curador