MNAC

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Horoscopus

Parte 2

James Colleman

2005-01-07
2005-02-20
Curadoria: Pedro Lapa

O Museu do Chiado – MNAC estreia mundialmente – horoscopus, o mais recente trabalho de James Coleman, produzido para a segunda parte da exposição que o museu inaugurou em 2004.

– horoscopus é visionado através de dois monitores característicos de um estúdio de produção televisiva, alternando entre uma apresentação convencional e uma divisão do ecrã em quatro partes, que remete para uma central de vídeo-vigilância e para as janelas num ecrã de um computador. Os ecrãs apresentam várias pessoas, quase sempre filmadas em close-up, pessoas que vão surgindo em vários diálogos a dois, falando em inglês ou em francês. Apresentam também aspectos gerais e pormenores do interior de um local que aparenta ser um armazém industrial em ruínas. As imagens têm data e hora de gravação e indicações técnicas, associadas a interferências e interrupções, provavelmente provocadas por falhas no sinal.

O que o público pode ver, durante 57 minutos, é o resultado da edição de várias horas de imagens gravadas digitalmente com oito câmaras, que registaram o desempenho de dez actores. Quatro das câmaras foram ocultas nos corpos dos próprios actores, transmitindo uma imagem por vezes muito próxima ao seu olhar. As cenas registadas consistem numa improvisação, levada a cabo pelos actores a partir de uma estrutura prévia definida por James Coleman através dos papéis dramáticos das personagens e desenvolvida por ele através da mise-en-scène e da direcção de actores. O enredo, que podia ser o de uma qualquer novela popular de encontros e desencontros amorosos, vai-se complexificando, desconstruindo uma dimensão aparente do olhar e elegendo o desejo como o seu objecto.

James Coleman (n. 1941, Irlanda) é um dos artistas mais relevantes na cena artística contemporânea. Desde a década de 70 que apresenta o seu trabalho em museus e galerias internacionais. Numa selecção das suas exposições individuais figuram: Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, Paris (1989), Dia Center for the Arts, Nova Iorque (1994-95), Kunstmuseum Luzern, Lucerna (1995), Centre Georges Pompidou, Paris (1996), Vienna Secession, Viena (1997), Palais des Beaux Arts, Bruxelas (1999), Fundació Antoni Tàpies, Barcelona (1999), Kunstbau Lenbachhaus, Munique (2002), Sprengel Museum Hannover (2002). Coleman participou também em inúmeras exposições colectivas internacionais, incluindo a documenta de Kassel. O seu trabalho está representado em algumas das mais importantes colecções mundiais, por exemplo a do Museum Ludwig, Colónia, do Centre Georges Pompidou, Paris, da Tate Gallery, Londres, ou da Fundació La Caixa, Barcelona, entre outras.

O trabalho de James Coleman emerge no final da década de 60, num contexto de profundas alterações e de preocupações com a redefinição do objecto artístico. Os seus trabalhos iniciais, incorporando encenações teatrais, são regularmente apresentados em projecções de grande escala, que utilizam projectores de slides com narração sonora sincronizada. Estes trabalhos iniciais, como Slide Piece (1972-73), fazem uso da linguagem verbal enunciada de modo retórico, que revela formas interrelacionadas de produção de significado, através da linguagem, da imagem e do espaço; um tema que continua a ter uma presença distinta nos trabalhos mais actuais.

O trabalho de James Coleman redefine profundamente os conceitos de representação e imagem, desenvolvendo implicitamente um discurso sobre a reinvenção do próprio médium. Em trabalhos como Playback of a Daydream, 1974, e Seagull, 1973 (2002), incluídos na exposição do Museu do Chiado – MNAC, Coleman aprofunda estas preocupações através de uma exploração da forma como as teorias contemporâneas da psicologia da percepção, da filosofia da linguagem e do teatro, podem ser utilizadas para questionar o assunto e o objecto de arte. Adaptando media tecnológicos comerciais, como a fotografia e o cinema, para formas artísticas, como em La Tache Aveugle (1978-90), o artista incita o espectador a uma reflexão sobre as mudanças ocorridas nos âmbitos sócio-políticos e culturais. O espectador é convidado e encorajado a contemplar o acto de percepção e interpretação no espaço de exposição, que é especificamente desenhado para acomodar o seu posicionamento subjectivo durante a visualização da obra.

As preocupações do artista com os sistemas de comunicação são evidentes no trabalho que desenvolve nas décadas de 80 e 90. Charon (MIT Project), 1989, incluído nesta exposição, pode ser entendido como o seu trabalho mais explicitamente auto-reflexivo sobre a fotografia, cuja influência directa e activa na construção da memória individual e social, juntamente com a identidade subjectiva, é encenada em episódios narrativos separados, mas interrelacionados.

Noutros trabalhos deste período (Background, 1992 e INITIALS, 1994), James Coleman continua a sua investigação sobre as condicionantes psicológicas, sociais e históricas da percepção, explorando estereótipos culturais, visuais e literários que sublinham o modo como a nossa percepção do mundo é filtrada através de imagens.

Com Lapsus Exposure, 1992-94, também incluído na exposição, a autoridade da fotografia, enquanto pretensa autenticidade documental e memória histórica, é posta em causa. Este trabalho reflecte sobre a presença recíproca da encenação teatral e do discurso oral incorporados na imagem fotográfica, transformada pelo advento da fotografia digital.

A exposição no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, a primeira de James Coleman em Portugal, divide-se em duas partes. A primeira parte traça um percurso pela obra do artista, através da apresentação de sete trabalhos concebidos entre 1970 e 1994, como por exemplo Pump (1972), La Tache Aveugle (1978-90) ou Lapsus Exposure (1992-1994). A segunda parte prolonga este percurso até à actualidade, com a estreia mundial do mais recente trabalho de James Coleman, produzido para esta exposição.

 

Curador: Pedro Lapa

Lista de obras: Pump, 1972, Seagull, 1973 (2002), Playback of a Daydream, 1974, La Tache Aveugle, 1978-90, Connemara Landscape, 1980, Charon (MIT Project), 1989, Lapsus Exposure, 1992-94, – horoscopus, 2004-5. 

Publicações: catálogo da exposição com edição em português e inglês, com ensaios de Benjamin H. D. Buchloh, Jacinto Lageira, Pedro Lapa e Kaja Silverman.

 

 

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