As nascentes míticas Léthê e Mnemósine — Léthê provocava o esquecimento em quem dela bebesse e Mnemósine favorecia a memória — inspiraram Helena Ferreira a fazer emergir, da “fonte” do esquecimento, os rostos e nomes de operárias anónimas de Alcântara, Xabregas, Poço do Bispo, Almada e Setúbal que, durante e depois da 1.ª República Portuguesa, desafiaram as normas ao liderar manifestações defendendo a igualdade de género, justiça laboral, e a emancipação feminina.
As imagens encontradas nalgumas páginas de jornais da época deram origem a esta série de desenhos a pó de carvão que, no momento da inauguração, são “desvelados” pela mão dos visitantes. Da superfície das folhas de papel em branco surgiram As filhas de Léthê, um conjunto de retratos coletivos e individuais, como os de Flávia de Mattos, Capitolina de Jesus e Liberdade da Pátria.
Tornar visível a identidade e memórias de mulheres que fizeram e fazem parte da história no pré e pós 25 de abril, abordar a fragilidade e instabilidade de direitos conquistados e por conquistar, são aspetos da linha de trabalho que a artista desenvolveu para o projeto Chiado, Carmo, Paris e os Caminhos de Salgueiro Maia – 2024, apresentados aqui na Galeria PeP e na exposição Olhar de Volta, uma homenagem a Natércia Salgueiro Maia, a realizar no Paiol de Castelo de Vide, cidade natal de Salgueiro Maia.
Lúcia Saldanha