Ângela Ferreira: Escala (1995)
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Galeria do Bar
entrada: Condições GeraisUma Escala, uma Sequência, o Engenho da Deriva e um Filme Retardado
Ângela Ferreira
1995-11-24
1996-03-18
Curadoria: Pedro Lapa
As máquinas do tempo de Angela Ferreira
O trabalho de Ângela Ferreira desde cedo tem assumido a ruptura da indistinção dos géneros artísticos, no entanto esta característica assume particularidades de teor operativo com importância capital nas suas obras. A relação entre a imagem fotográfica ou gráfica e a experiência tridimensional dos objectos escultóricos que lhe estão associados escava um conjunto de cumplicidades de ordem formal onde a cultura erudita, em que o modernismo se confinou, encon-tra a sua manifestação em objectos de uso quotidiano, próprios da cultura popular urbana das sociedades pós-industriais. A ambiguidade estabelecida entre uma possível dimensão estética inscrita na formalidade dos objectos ou um olhar esteticamente condicionado que a sugere levanta uma questão de ordem fenomenológica que desconstrói o formalismo que os processos de realização destes trabalhos poderiam pressupor. É na interrogação da relação entre a formalidade das obras, com o seu tempo histórico, e o seu aparecer ahistórico que se joga uma questão decisiva a do processo de modernização, as reflexões por ele suscitadas num tempo que já lhe é estranho e a sua inércia depois da utopia constitutiva do próprio projecto.
Neste sentido a presente instalação de Ângela Ferreira, Uma Escala, uma Sequência, o Engenho da Deriva e um Filme Retardado, vem questionar um problema central na sua produção que é o tempo. Este foi também o aspecto que a artista escolheu para abordar uma colecção em que a modernidade portuguesa e as suas especificidades periféricas constituem o tema dominante. Uma estrutura icónica de valor esquemático subjaz a cada uma das obras. Assim na Escala para além da apropriação do aspecto gráfico, mais evidente, é um período de tempo o da colecção do Museu do Chiado que é enunciado, bem como um entendimento linear e mecanicista. A este sucede-se outro de conotação modernista que uma Sequência vem contrapor. A valorização perceptiva dos materiais e do aspecto formal de filiação abstracta não deverá iludir um fundo conceptual totalmente diverso onde a par da sequência dos materiais usuais da escultura tradicional um tempo em espiral, hegeliano, se anuncia. Como uma crítica a este tempo teleológico, o Engenho da Deriva reapropria materiais de produção industrial, adapta-os e cita a arquitectura envolvente, quase apagando a sua presença, e estabelece um paralelismo entre duas situações dessincronizadas que vem dividir a unilateralidade do conceito de tempo da peça anterior. Os tempos da modernidade encontram-se assim politicamente divididos entre centro e periferias. O Filme Retardado ao operar a passagem da figuração para a abstracção e ao repor a sincronização através do movimento dos passos configura um movimento tendencial e terminal do modernismo. A rarefacção material realizada pela desfocagem da imagem aliada à sua desaceleração pressupõe a quase extinção do tempo.
Uma ambiguidade é assim forjada entre a utopia espacial modernista, associada a uma liberdade radical, e o indefinido de um movimento cego e redutor das diferenças à mesmidade, próprio do não-lugar que é a virtualidade. No entanto, a virtualização, que se substitui à utopia, também pode ser clivada positivamente como, no fundo, acontece com toda a instalação, ao possibilitar o seu dispositivo retórico historicizante. Como não existe espaço puro fora da teoria, a conceptualização dos percursos históricos do modernismo faz-se através de formas residuais e o seu sublime é aqui o virtual.
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