Camões na gruta de Macau

, 1853

Francisco Metrass

Óleo sobre tela

163 × 132 cm
assinado e datado
Inv. 499
Historial
Pertenceu à colecção do rei D. Fernando II (1816 – 1885). Adquirido pelo Estado no leilão do Conde de Ameal, em 1921.

Exposições
Paris, 1855, 1669; Lisboa, 1898, 300, p.b.; Lisboa, 1921, 1399; Lisboa, 1972, 3, cor; Paris,1987, 82, cor e p.b.; Lisboa, 1988, 82, core p.b.; SILVEIRA, 1994, 15, cor; Porto, 1999, 104, cor; Lisboa, 2002; Lisboa, 2005.

Bibliografia
PESSANHA, 1898, 300, p.b.; L’ Art en Espagne et en Portugal de la fin du XVIIIe siècle a nos jours, 1926, 846 ; LUCENA, 1943, 47 ; MACEDO, 1949, 9, p.b.; MACEDO, 1952, 12 – 13, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. III; Lisboa, 1961, XLIV, p.b.; FRANÇA, 1967, vol. I, 276, p.b.; SOARES, 1971, 383 – 384; LISBOA, 1972, 15, cor; Dicionário da Pintura Universal: Pintura Portuguesa, 1973, vol. 3, 276; FRANÇA, 1981, 66, p.b.; ANACLETO, 1986, 158, cor; FRANÇA e COSTA, 1988, 131, cor; MARÍN, 1989; FRANÇA, 1993, 350 – 51; SILVEIRA, 1994, 8, cor; Lisboa, 1995, 331; Porto, 1999, 323, cor; RODRIGUES, 2000, 198; FALCÃO, 2003, 77.
Camões e o escravo Jau são aqui representados num espaço cenográfico, construído por apontamentos de gruta e referências marítimas. Hipotético auto-retrato de Metrass, inscreve-se numa imagética de herói romântico onde a representação do poeta da gesta lusitana, melancólica e eivada de um pessimismo moral e desespero nas capacidades humanas, parece coincidir tanto física como espiritualmente com o do retratista.
O espírito isolado, de tendências depressivas, e uma estada em Paris, convergem com esta imagem do “exílio” de Camões que, longe da pátria, escreve Os Lusíadas. Metrass elegera já momentos histórico-dramáticos, como o do episódio de D. Inês ou do rei Salomão, cenas da vida de Cristo ou de místicos eremitas, mas a escolha de Camões sofredor torna-se signo emblemático de uma via intelectual do romantismo português que Domingos António Sequeira enunciara e que encontra em Garrett suporte literário. Aliás, o tema traduz uma dupla inspiração: se Camões bebe nas fontes da Antiguidade Clássica, Metrass mergulha na antiguidade de Pátria do século XVI.
Nesta obra, a dramaticidade joga com o cromatismo tonal de castanhos densos, onde se destaca o rosto de Camões, iluminado. O poeta-guerreiro repousa da sua cruzada, a espada aos pés, a pena em suspenso. As duas personagens reflectem, Camões fixa o horizonte e o escravo fita o chão, lembrando talvez as palavras do poeta: “Malaios namorados, jaos valentes/ todos farás ao Luso obediente” (Os Lusíadas). Refiram-se ainda as sugestões icónicas e os ensinamentos programáticos de um romantismo vivido entre os ateliers romanos de Peter Cornelius e Johann Friedrich Overbeck ou de Paul Delaroche em Paris, onde terá executado esta obra.

Maria Aires Silveira