Anti-Isto: Manifesto-Poema

, 1936

António Pedro

Tinta estilográfica sobre papel

18,6 × 10,5 cm
assinado e datado
Inv. 2509-1, 2509-2, 2509-3, 2509-4, 2509-5, 2509-6
Historial
Doação de José-Augusto França em 2000.

Exposições
Lisboa, 1999, 82-87, p.b.; Caminha, 2000; Lisboa, 2005; Lisboa, 2008; Caminha, 2009, 55-60, p.b.

Bibliografia
LAPA, 1999, 82-87, p.b.; António Pedro. Exposição Comemorativa do Centenário do Nascimento, 2009, 55-60, p.b.
Autor de uma vasta e relevante obra no âmbito da poesia visual, António Pedro afirmou através de várias das suas criações uma postura vanguardista e revolucionária, como bem ilustra o seu Anti-Isto: Manifesto-Poema. Elaborado em 1935, no período do dimensionismo, e publicado em 1936 como parte do livro Primeiro Volume, este Manifesto-Poema é apresentado como uma história narrativa desenvolvida em seis pequenas páginas a tinta estilográfica, com princípio, meio e fim. A primeira página é apresentada como folha de rosto afirmando a autoria, o título, a data e o local. As quatro páginas seguintes revelam o conteúdo autoral e crítico deste manifesto, em poemas visuais que combinam texto e desenho. O primeiro poema marca pelas imagens que revelam um traço caricatural, solto e informal, realizado em espaços rectangulares demarcados numa lógica de banda desenhada, com legendas por baixo. Um poema visual satírico em que o autor se manifesta contra «isto», ou seja, aquilo que ilustra e define por escrito como certas «categorias» sociopopulares que o autor elege, nomeadamente, as domésticas «de parir e fazer meias» ou as «velhas de rezar a vida dos vizinhos», grupos enraizados socialmente que no seu entendimento minam por dentro a sociedade com o espírito mesquinho de pequenez intelectual e intriga. O segundo e o terceiro poemas apresentam composições mais elaboradas nas quais há um predomínio da palavra escrita que penetra nos desenhos, executados com formas geométricas circulares numa evocação de diferentes mundos que nos despertam e alertam para pensamentos de reflexão crítica ou conjugações de palavras numa via irónica. O quarto poema apresenta apenas texto, ou melhor, um rol de frases  provocatórias, cujo conteúdo articula com o primeiro poema, num acentuado espírito mordaz. Por fim, a última página conclui o manifesto com uma frase síntese de tom cáustico. Um «Fim» em nota que a nota que o acompanha e a seta desenhada deixam o caminho em aberto.

Adelaide Ginga