O desterrado
, 1872
António Soares dos Reis
Gesso patinado
172 × 65 × 83 cm
172 × 65 × 83 cm
assinado e datado
Inv. 189
Historial
Proveniente do hospício de Santo António dos Portugueses, em Roma. A estátua foi transportada para Lisboa em 1908 – 09 através de verba do Legado Valmor. Integrado no MNAC em 1914.
Exposições
Lisboa, 1951; Lisboa, 2005; Lisboa, 2006; Lisboa, 2010
Bibliografia
RODRIGUES, 1886, 274; ARTHUR, 1896, 65; VASCONCELOS, 1905, 5 – 7; MATOS, 1933, 7; Portugal: A arte, os monumentos, a paisagem, os costumes, as curiosidades, s.d. (c. 1936), 18, p.b.; BRAGANÇA, s.d. (c. 1936), 13 – 14; LACERDA, 1939; Porto, 1940, 21; GRAÇA, 1941; Porto, 1943, 218; BARREIRA, 1945, 37; LACERDA, 1946, 380 – 381, p.b.; GUSMÃO, 1947, 113 – 15; BRASIL, 1947; MACEDO, 1947, 9, p.b.; Arte/ Boletim da Sociedade Nacional de Belas-Artes, 1951, 11, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. IV; FRANÇA, 1967, vol. I, 452 – 56; RIO-CARVALHO, 1986, 138; FRANÇA, 1988, 39 – 40; FRANÇA e COSTA, 1988, 180; FRANÇA, 1993, 505 e 562; LAPA, 1994, 76, cor; PEREIRA, Lisboa, 1995, 349; As Belas-Artes do Romantismo em Portugal. Porto, 1999, 338 – 39; TEIXEIRA, 1999, 176; Porto, 1999, 74 – 76; SANTOS, 2002, 12 – 13; JORGE, 2003, 42 – 43; TEIXEIRA, 2005, 13; MACEDO, s.d., 391, p.b.
Proveniente do hospício de Santo António dos Portugueses, em Roma. A estátua foi transportada para Lisboa em 1908 – 09 através de verba do Legado Valmor. Integrado no MNAC em 1914.
Exposições
Lisboa, 1951; Lisboa, 2005; Lisboa, 2006; Lisboa, 2010
Bibliografia
RODRIGUES, 1886, 274; ARTHUR, 1896, 65; VASCONCELOS, 1905, 5 – 7; MATOS, 1933, 7; Portugal: A arte, os monumentos, a paisagem, os costumes, as curiosidades, s.d. (c. 1936), 18, p.b.; BRAGANÇA, s.d. (c. 1936), 13 – 14; LACERDA, 1939; Porto, 1940, 21; GRAÇA, 1941; Porto, 1943, 218; BARREIRA, 1945, 37; LACERDA, 1946, 380 – 381, p.b.; GUSMÃO, 1947, 113 – 15; BRASIL, 1947; MACEDO, 1947, 9, p.b.; Arte/ Boletim da Sociedade Nacional de Belas-Artes, 1951, 11, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. IV; FRANÇA, 1967, vol. I, 452 – 56; RIO-CARVALHO, 1986, 138; FRANÇA, 1988, 39 – 40; FRANÇA e COSTA, 1988, 180; FRANÇA, 1993, 505 e 562; LAPA, 1994, 76, cor; PEREIRA, Lisboa, 1995, 349; As Belas-Artes do Romantismo em Portugal. Porto, 1999, 338 – 39; TEIXEIRA, 1999, 176; Porto, 1999, 74 – 76; SANTOS, 2002, 12 – 13; JORGE, 2003, 42 – 43; TEIXEIRA, 2005, 13; MACEDO, s.d., 391, p.b.
O desterrado é sem dúvida o momento cimeiro da escultura oitocentista. Executada parcialmente em Roma em 1872, como prova de pensionista, Soares dos Reis concluí-la-ia já no Porto. O gesso foi modelado tendo em vista a concretização da peça em mármore, onde o escultor teve também activa participação. Esta obra não tem antecedentes na escultura nacional da segunda metade do século, até aí quase inexistente; ela é sobretudo uma síntese de atitudes aparentemente contraditórias. Se o sentido geral da escultura é romântico – a inspirá-la estiveram os versos das Tristezas do Desterro de Alexandre Herculano, – um classicismo que enforma a pose da figura e remonta ao Ares do Museu das Termas de Roma, coexiste com um subtil naturalismo presente na modelação do corpo.
Mas é O desespero de Joseph Perraud, de 1861 (Museu d’Orsay), exposto no Salon de 1869 com grande sucesso e adquirido pelo Estado francês nesse mesmo ano, que Soares dos Reis terá visto e que mais profundamente o terá inspirado. Figura de jovem, sentado com as mãos entrelaçadas e apoiadas nos joelhos flectidos, a cabeça escondendo o rosto, de cabeleira semelhante à de O desterrado, assume uma indiscutível influência neste último para além do mérito absoluto que revela.
A intensidade desta escultura é expressa pelo contraste entre o dinamismo da figura, articulada em dois eixos oblíquos cruzados e o olhar fito no chão, que presentifica uma interioridade onde ecoa um tempo outro. Assim O desterrado torna-se a consciência dolorosa da nostalgia de um tempo impresentificável. As mãos entrelaçadas, o pé apoiado contra a perna ou os lábios contraídos são outros tantos sinais de inquietude dessa consciência ferida a que faz alusão. No sentido em que o inapreensível de um tempo ausente é o que está para lá do visível, esta peça instaura uma ruptura na adequação entre o ideal e a forma, própria de uma estética fundada no Belo como categoria suma, e inaugura a pré-modernidade das artes plásticas em Portugal.
Pedro Lapa
Mas é O desespero de Joseph Perraud, de 1861 (Museu d’Orsay), exposto no Salon de 1869 com grande sucesso e adquirido pelo Estado francês nesse mesmo ano, que Soares dos Reis terá visto e que mais profundamente o terá inspirado. Figura de jovem, sentado com as mãos entrelaçadas e apoiadas nos joelhos flectidos, a cabeça escondendo o rosto, de cabeleira semelhante à de O desterrado, assume uma indiscutível influência neste último para além do mérito absoluto que revela.
A intensidade desta escultura é expressa pelo contraste entre o dinamismo da figura, articulada em dois eixos oblíquos cruzados e o olhar fito no chão, que presentifica uma interioridade onde ecoa um tempo outro. Assim O desterrado torna-se a consciência dolorosa da nostalgia de um tempo impresentificável. As mãos entrelaçadas, o pé apoiado contra a perna ou os lábios contraídos são outros tantos sinais de inquietude dessa consciência ferida a que faz alusão. No sentido em que o inapreensível de um tempo ausente é o que está para lá do visível, esta peça instaura uma ruptura na adequação entre o ideal e a forma, própria de uma estética fundada no Belo como categoria suma, e inaugura a pré-modernidade das artes plásticas em Portugal.
Pedro Lapa