Ismael

, 1899

Augusto Santo

Bronze

65 × 150 × 58 cm
assinado e datado
Inv. 207
Historial
A prova final de curso na Academia Portuense de Belas-Artes em gesso, pertenceu ao pintor Carlos Reis. Adquirido pelo legado Valmor em 1914.

Exposições
Lisboa, 1897, 151; Lisboa, 1898, 196; Lisboa, 1979, 118; Lisboa, 1997.

Bibliografia
CORREIA, Porto, 1910, 357; Portugal: A arte, os monumentos, a paisagem, os costumes, as curiosidades, s.d. (c. 1936), 22, p.b.; BRAGANÇA, s.d. (c. 1936), 15; MACEDO, 1943, 304 – 05; Porto, 1943, 233 – 34, p.b.; SANTOS, Porto, 1953, 548, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. IV; FRANÇA, 1967, vol. II, 217, p.b.; Portuguese 20th century artists: a biographical dictionary, 1978, pl. 114; FERREIRA e VIEIRA, Lisboa, 1985, 362, p.b.; RIO-CARVALHO, 1986, 141 – 42, cor; ANACLETO, 1986, 141 – 42, cor; LAPA, 1994, 89, cor; PEREIRA, 1995, 351; Percurso Táctil: Escultura séc. XIX e XX, 1997, 33 p.b.; ANDRADE, 1997, 64 – 65, cor; RODRIGUES, 2000, 200, cor; SANTOS, 2002, 12, cor; MACEDO, s.d., 9, p.b.
Exemplo mais próximo do simbolismo, que não existiu como tendência na escultura portuguesa oitocentista – os cânones naturalistas tornaram-se omnipresentes –, esta obra,  por via de um imaginário simbolizante, aponta para um entendimento que não esteve completamente ausente do Desterrado do seu mestre Soares dos Reis ou que, no seu amigo António Carneiro, de forma mais profunda e modernizante, se bem que isolado, se afirmaria com grande originalidade. De resto o convívio com Manuel Laranjeira é também sintomático das afinidades estéticas do escultor.
A modelação e as proporções anatómicas desta peça estão ainda filiadas num sistema naturalista: a dimensão das mãos ou dos pés impõem com pregnância a presença do modelo que posa, aspecto comprometedor do seu imaginário. A composição profusamente triangulada apresenta uma obliquidade que suspende o corpo no ombro, momento de tensão a partir do qual se abandona a cabeça e o resto do corpo, animado por uma linha ziguezagueante que lhe quebra a monotonia causada pelo próprio abandono. Esta posição, criada pela flacidez do corpo, exterioriza o sofrimento e torna o pathos o motivo dominante da cena. Inspirado no episódio bíblico (Gen. 21.15) a situação de Ismael confunde-se com o autor, também ele protagonista, mas não fundador, de uma família poética injustiçada pelo gosto dominante.

Pedro Lapa