Integrou o Movimento Surrealista organizado em Portugal no final dos anos 40 através do grupo Os Surrealistas, que foi criado em 1949 por oposição ao Grupo Surrealista de Lisboa. O seu espírito inquieto e experimentalista levou-o a várias incursões na escrita e nas artes plásticas, em particular durante o período de acção colectiva de Os Surrealistas. Entre 1949 e 1952, realiza um conjunto de desenhos e algumas pinturas com que participa nas duas exposições realizadas pelo grupo em 1949 e 1950. Ainda que não esteja datado, este desenho sem título denuncia uma forte ligação ao universo surrealista e deverá datar-se entre 1949–52. O desenho é todo elaborado no traço curvo que caracterizou o seu trabalho artístico e que aqui é levado ao extremo na composição emaranhada das formas espiraladas em traço solto, que criam um efeito padronizado no fundo e revelam uma figura antropomórfica de vários braços entre outros elementos geométricos, são também utilizados dentro e fora da figura caracteres abstractos. As formas são trabalhadas com volume e sombras, num cromatismo suave. No centro, um paralelepípedo branco de arestas marcadas destaca-se de forma insólita na sua contrastante simplicidade e depuração.

Adelaide Ginga