Entre 1954 e 1959, Victor Palla e Costa Martins, ambos arquitectos, realizaram um dos projectos fotográficos mais importantes para a história da fotografia portuguesa, um inventário dos lugares e das gentes de Lisboa, realizado ao longo de cerca de quatro anos, e traduzido em livro e exposição (1958–1959), denominados Lisboa, Cidade Triste e Alegre. O pouco informado meio artístico e cultural da época não entendeu a dimensão e a importância do projecto, e só nos anos 80, a obra seria redescoberta. Estas três imagens fazem parte desse inventário, que se caracterizaria pela sua forma absolutamente inovadora de entender o trabalho fotográfico da deambulação. As referências e motivos de inspiração dos dois autores para esse trabalho foram diversos e ricos, desde o cinema à literatura, e traduzem afinal um dos mais eloquentes inventários visuais da segunda metade do século XX. Uma intensa noção do fugaz, muito para lá do instantâneo, está na origem destas imagens, elas são lapsos de tempo da vida de uma cidade, que se traduz quase sempre na eloquência de uma grande melancolia, a que os cortes e enquadramentos de imagem, sensíveis, de Victor Palla dão a mais eficaz expressão.

Emília Tavares