Sem título (militares)

, c.1930–32

Bernardo Marques

Tinta-da-china sobre papel

20,5 × 27 cm
Inv. 2866
Historial
Doação da viúva do artista, Maria ElisaMarques, em 2005.

Exposições
Lisboa, 2002; Lisboa, 2005.

Bibliografia
RUIVO, 1993, s.n.º, cor.
A capacidade crítica que Bernardo Marques desenvolveu no desenho atingiu vários estratos sociais e aos seus respectivos representantes: académicos, dirigentes, congressistas ou burgueses como agentes de uma classe económica. Os militares, como não podia deixar de ser no contexto da ditadura portuguesa do salazarismo, não escaparam ao seu olhar atento e caricatural. Daí que esta parte da sua produção permanecesse oculta para escapar à Censura, tendo sido conhecida somente após a morte do artista em 1962. Assim são transmutados em ferozes animais, ridicularizados na sua arrogância ou nos seus rituais ou, como neste caso, tornam-se expoentes de um poder e um sistema velho e desfasado. Com um traço expressivo vai descrevendo com uma linha continuada e curva as diferentes personagens que se situam à volta da figura central, tão decrépita e envelhecida quanto condecorada. Nela o traço anguloso adquire uma particular violência, evidenciando a admiração que sentia por Grosz, cujo trabalho conheceu no ano anterior com motivo de uma viagem a Berlim. Em redor desta figura dispõem-se as expressões satisfeitas dos outros militares de patente inferior, como imagem da hierarquia interna que sustenta o sistema.

Maria Jesús Ávila
 

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