Auto-retrato

, 1925

Abel Manta

Óleo sobre tela

60 × 50 cm
assinado e datado
Inv. 2608
Historial
Adquirido pelo Estado a Ruy Bravo, em 2005.

Exposições
Lisboa, 2005; Lisboa, 2006.
Este auto-retrato, provavelmente efectuado durante a sua estada em Paris (1919–26), reflecte uma clara influência cézanniana pela criação de um dinâmico fundo, organizado através de planos e que destaca o rosto facetado, em manchas planificadas. Uma pintura em mancha e de pinceladas facetadas preenchem o rosto e revelam esta intencional ambiguidade entre uma ordenação geométrica de referências cubistas e uma expressividade comum aos seus inúmeros retratos e auto-retratos. Tal como outras obras desta fase, que revelam o seu entendimento da pintura do Pós-Impressionismo e do Fauvismo, também nesta peça é óbvia a simplificação das formas, e, apesar de unificarem o espaço, ligam-se a uma projecção sensível de interpretação do artista que se revê num momento de introspecção. Estas características são perceptíveis no Auto-retrato de 1930, sob um fundo negro e numa afirmativa pose, com um rosto manchado de planos ou no Retrato do violinista René Bouhet, do mesmo ano, compositor de muitos filmes portugueses desta década e que se destaca de um discreto fundo marcado por planos sucessivos em torno da figura. Neste Auto-retrato, pouco divulgado e recentemente integrado na colecção do MNAC – Museu do Chiado, o autor salienta a influência de Cézanne, visível ainda em importantes pinturas posteriores, Jogo de damas, pela importância que atribui à cor e à representação da forma planificada, numa preferência assimilada em Paris e discutida pelo grupo de artistas portugueses aí residente, Dordio Gomes, Francisco Franco, H. Cremez. No entanto, afasta-se da visão simultânea da forma em movimento, proposta por Picasso e pelo Cubismo, contrapondo esta sensação, analisada sob a perspectiva de um ponto único, a uma intencional dinâmica fundo/figura, num jogo introspectivo e de expressiva modernidade.

Maria Aires Silveira
 

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