Ernesto de Sousa acreditava numa arte total, que conjugasse a tradição estética e a vanguarda e que fosse a concretização duma simbiose entre a arte e a vida. No tempo em que este trabalho foi realizado, a arte pedia ao espectador que fosse também um interlocutor e não apenas um sujeito passivo. Muito influenciado pelas neovanguardas performativas do movimento Fluxus, Ernesto de Sousa explorou vários mediums numa mesma obra, como é o caso da presente instalação. Uma manifestação de trabalhadores da Lisnave, no pós 25 de Abril de 1974, é projectada sobre écrans serigráficos brancos com a pequena inscrição “o teu corpo é o meu corpo”, sendo o espectador convidado, após a projecção, a deixar a sua marca, mensagem, contributo, sob qualquer forma. Um manifesto de tributo e homenagem a intelectuais de várias épocas acompanha a instalação, ao mesmo tempo que convida o espectador a inscrever este acto artístico no seu quotidiano, como expressão dum projecto de igualdade social e cultural, de cidadania esclarecida e politicamente empenhada.

Emília Tavares