Entre 1961 e 63, Lourdes Castro estabelece-se em Paris e edita a revista KWY (1958-63) com René Bertholo. Nestes anos realiza as primeiras assemblages, semelhantes às de Arman, com objectos do quotidiano acumulados e colados em recipientes, formando conjuntos sem coerência formal, ou de uso e conteúdo. Esta ausência de relações explícitas contrasta com a uniformidade da cor, uma purpurina cor de alumínio que se estende por toda a obra e neutraliza alguma eventual funcionalidade. Os objectos constituintes perdem a sua função específica, anteriormente ligada a uma cultura popular, e são apropriados e colecionados pela autora que os envolve em contextos eruditos entregando-os ao mundo da arte. Trata-se de um novo quadro de questões estruturado nas relações do objecto com os sistemas de significação de uma cultura, com o seu entendimento crítico e a ideologia originária, em enquadramentos arbitrários e heteróclitos, ou seja, com sentidos estranhos a qualquer categoria.

Pedro Lapa