A preocupacção pelo contorno, revelada desde 1964 nos seus trabalhos em acrílico radicaliza-se e relaciona-se com o quotidiano quando a autora inscreve a figura em lençóis, através do bordado, técnica que não será alheia às suas origens madeirenses. Tal como nas suas assemblages, Lourdes Castro desloca um processo artesanal de uma cultura específica para um outro enquadramento, adaptando o bordado ao suporte, o lençol, que assim substitui a tela. Por outro lado, a significacção que o suporte envolve tem a capacidade de desviar o objecto artístico da vertical para a horizontal, ou seja, do cultural para o natural, inclusive quando exposto verticalmente, pois o seu referente é a horizontalidade. Também aqui se questiona a presença de corpos ausentes ou a linearidade dos seus vestígios sensitivos.

Pedro Lapa