Quando Carlos Afonso Dias se encontrou com Nova Iorque tinha já na sua formação visual as imagens dos grandes fotógrafos do Realismo norte-americano, como Robert Frank. As revistas internacionais, que escassamente chegavam a Portugal, traziam a informação preciosa sobre essa reportagem de rua, atenta tanto aos signos citadinos como às pessoas. A sensibilidade e a técnica do fotógrafo puderam assim captar, segundo os novos cânones do instantâneo, esta imagem de relação extrema entre a linguagem urbana e os seus habitantes. Implícita está a ironia com que o autor trata muitos dos seus assuntos, ao relacionar o slogan «Brute Force» com o aspecto coquette e algo sonâmbulo das duas figuras femininas, em primeiro plano, colocando em evidência o texto e trazendo-o para o interior da imagem enquanto catalisador de novos estratos de discurso, que não apenas o visual.

Emília Tavares