Bairro de pescadores

, 1929

Dominguez Alvarez

Óleo sobre tela

96 × 77 cm
assinado e datado
Inv. 1029
Historial
Adquirido pelo Estado em 1943.

Exposições
Porto, 1942–43, 3; Lisboa, 1942–43, 3; Lisboa, 1980; Queluz, 1989, 109; Castelo Branco, 2001, 89, cor; Lisboa, 2010.

Bibliografia
Dominguez Alvarez: Exposição Póstuma (…), 1942, 3; Dominguez Alvarez, 1987, 22; ALVAREZ, 1987, 98, cor; SILVA (et al.), 1994, 232-233, cor; SANTOS, 2001, 25, 88-89.
A pintura de Dominguez Alvarez situa-se numa margem da produção dominante da época. A sua originalidade funda-se numa sensibilidade predominantemente expressionista, por vezes com um sentido onírico quase desconhecido na pintura portuguesa das décadas de 20 e 30. Neste tema o espaço é entendido de duas diferentes maneiras: na parte superior desenvolve-se de um modo extensivo, por um somatório de volumes que se suportam e sucedem; na parte inferior, uma escura mancha algo informe acentua de modo intensivo a organização do espaço. O casario é figurado com grande simplificação de processos de iluminação que recorrem a um convencionalismo estrito. As janelas, sintéticos rectângulos negros, inseridas aos pares nas paredes, sugerem um antropomorfismo inquietante que habita o interior do motivo aparentemente desertificado. Todavia o que daí transparece é o negro, ausência de cor que devolve um vazio absoluto à interioridade da cena prefigurando-a como impossibilidade ontológica, problemática presente noutras pinturas do artista. Outra ausência que vem na continuidade desta é a da água, também ela aqui substituída pela mancha escura do primeiro plano. Assim a paisagem aparentemente litoral é deslocada para um não-lugar – veja-se a este propósito a ausência de sombra da árvore –, que é o vazio da consciência oscilando entre dois entendimentos do espaço perceptivo definitivamente separados de naturalismos reminiscentes em muitos modernos.

Pedro Lapa