Retrato de Manuel Mendes

, 1929–1930

Sarah Afonso

Óleo sobre tela,

74,5 × 55 cm
assinado
Inv. E.3.2619
Historial
Adquirido pelo Estado em 1977.

Exposições
Lisboa, 1930, 72; Lisboa, 2000, 21, cor.

Bibliografia
I Salão dos Independentes, 1930, 72; «Há cinquenta anos: os Independentes de 1930», 1980, 33; NEGREIROS, 1989, s.n.º, cor; MATIAS, 2000, 21, cor.
O retrato frontal de Manuel Mendes inscreve-se numa linguagem modernista de Sarah Afonso, das décadas de 30–40. As suas linhas simplificadas registam a profundidade do expressivo olhar, reflexo de uma atitude destemida e humanitária de escritor neo-realista, preocupado com quotidianos e histórias de vidas dramaticamente impostas por duras condições. Sarah Afonso, amiga do escritor, tal como um grupo de intelectuais e artistas, foi a última discípula de Columbano Bordalo Pinheiro na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Admiradora do seu processo pictórico, também estabelece na sua pintura pontos tensionais que desviam a atenção para pormenores, como o laço vermelho e as mãos, e, paradoxalmente, afastam o olhar do tratamento distinto do rosto. O próprio Manuel Mendes reconhece sinceridade nas suas mãos toscas, fundamentais instrumentos narrativos para o entendimento da realidade e que neste retrato se evidenciam. A pose de homem convicto do seu compromisso ético, num enquadramento político ditatorial, contrário às suas ideias e postura cívica, ajusta-se a uma intenção da artista na captação de um momento identitário do escritor. Neste retrato, Sarah Afonso traduz um envolvimento emocional laudatório, exposto através da pureza do traço e de uma absoluta bidimensionalidade ajustada à frontalidade da pose.

Maria Aires Silveira