A colagem foi uma das técnicas que caracterizou a criação surrealista. O recurso a materiais prefabricados, que poderiam ser manipulados ou não, numa conjugação fortuita de realidades diversas, descontextualizadas do seu universo original, permitia novas abordagens e insólitos discursos. Nesta colagem de Henrique Risques Pereira, a imagem de fundo apresenta um fundo negro, traçado por inúmeras linhas, como feixes de luz, que irrompem as margens e se entrecruzam criando uma trama onde despontam pequenos pontos luminosos que salpicam a imensidão escura. Este suporte revela-nos ainda na metade superior, sob a trama existente, um outro corpo estranho em plano aproximado que, no contexto, pode assemelhar-se a uma nave espacial com uma dimensão intimidatória em função do outro elemento que surge no meio da composição. O elemento adicionado no plano central deste universo de ficção, quase cósmico, é a figura recortada de um homem de corpo inteiro com traje típico de montanhismo, que lembra o dos cantões suíços. Não vemos o seu rosto, apenas as costas e uma parte lateral. A posição indica um exercício de escalada sobre as linhas. O resultado da justaposição destes elementos desconexos remete para um universo ficcional ou onírico que permite múltiplas leituras metafóricas.

Adelaide Ginga