Cólera Morbus

, 1856

Vítor Bastos

Baixo-relevo, gesso patinado

128,5 × 102 cm
assinado e datado
Inv. 199 - A
Historial
Adquirido pelo legado Valmor em 1906 – 1907. Integrado no MNAC em 1914.

Exposições
Lisboa, 1856.

Bibliografia
PAMPLONA, 1943, 206; FRANÇA, 1967, vol. I, 288; PAMPLONA, 1952, 122; SOARES, 1971, 74; ANACLETO, 1986, 136; FRANÇA, 1993, 354; SILVEIRA, 1994, 74, cor; MACHADO, Revista Universal Lisbonense, s.d., 9; RHEIMS, La Sculpture au XIX ème siècle, s.d., 46.
O tema reflecte o dramatismo de uma recente epidemia, transmitindo ao gesso sentimentos de terror e fé. Todas as figuras denotam uma gestualidade cenográfica, conveniente na movimentação que o artista pretende imprimir à cena. Registe-se o interessante modelado do vestuário, de referência neo-clássica, mas entendido com maior naturalidade e simplicidade.
A composição, de convencionalismo formal, sugere uma situação de contrastes emotivos, entre sentimentos de pânico pela aproximação da morte (semelhante a uma cabeça de um baixo-relevo de Auguste Préault, Massacre, 1834) e a harmonia na fé. Distribuídos em dois campos distintos, ou ângulos de um enquadramento triangular, os intervenientes formam um labirinto de sentimentos opostos, lembrando as divisões estabelecidas entre vida e morte nos baixos-relevos da escultura tumular gótica. Aliás, o próprio tema sugere o ideário medieval: a irrupção do apocalipse que o homem não consegue dominar.
Todo o dramatismo sentimental desta peça romântica manifesta, pela posição das cabeças e dos troncos, uma situação de ruptura face às obras de professores da Academia, seja de Francisco de Assis ou de Araújo Cerqueira.

Maria Aires Silveira