António Sena

Lisboa , 1941 LISBOA , 2024

Natural de Lisboa, estuda no Instituto Superior Técnico e na Faculdade de Ciências de Lisboa. A via artística acaba, contudo, por vir a ser a sua vida, iniciando a formação nos cursos de Gravura na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses.

É como bolseiro da FCG que, em 1965, parte para Londres para estudar na St. Martin's School of Art (1965-66). Permanecerá em Londres até 1975.

Após o seu regresso a Portugal, ocupa-se também da docência, como professor de Pintura no Ar.Co, de 1978 a 1992. A partir desse ano, dedica-se exclusivamente à actividade plástica.

Expondo desde 1964, e tendo sido objecto de duas exposições mais abrangentes (“António Sena. Pintura”, CAM/FCG, 2002, e “António Sena: Pintura, Desenho 1964-2003”, primeira retrospectiva, no Museu de Serralves, em 2003) a sua obra, premiada, nacional e internacionalmente, encontra-se representada em diversos museus no país e no estrangeiro.

Durante a estada londrina, o seu trabalho reflecte influências da Pop Art, tanto no tratamento da cor, como nos conteúdos e técnicas. No final da década, porém, essa linguagem altera-se, dando lugar a uma grafia íntima, de automatismo gestual.

Ao longo das décadas seguintes, o trabalho foi passando por fases em que incorporou aspectos de uma linguagem projectual, incluindo letras, números e o seu próprio nome, além de gráficos, códigos de barras, alvos, etiquetas, palavras soltas, frases inteiras ou até textos mais completos e complexos, numa relação próxima entre caligrafia e desenho.

As telas, por vezes de fundo negro ou com outras cores muito escuras, sugeriam ardósias escolares, em que a escrita e o apagamento se sobrepunham, numa saturação da imagem. O mistério desse universo plástico, que não era facilmente legível, era adensado pela inclusão de palavras ou frases em línguas estrangeiras.

O seu trabalho da cor oscilou também entre telas mais vibrantes, cheias de luz, e outras de corres mais profundas e térreas que sugeriam também uma relação com o início histórico da escrita, em placas de argila, opção que o artista aprofundou a partir da década de 1990.

António Sena tinha deixado de pintar há algum tempo, dedicando-se particularmente ao desenho.

Com uma clara consciência da finitude que nunca deixou de enunciar, a obra de António Sena sugere a nossa eterna necessidade de entender o mundo, sem nunca chegar a descodificar os seus mistérios. Poética e melancólica, a sua reescrita constante, recorda-nos a fragilidade da vida e de como todos os nossos esforços se apagam na voragem do tempo.

Emília Ferreira